O que realmente vale cada percentagem e cada número que se atravessa nas nossas vidas? A resposta às terças, no Jornal Nacional.
Subida dos juros está a aumentar os lucros da banca, que estão a ter um período como há muito não tinham. Podem agradecer ao BCE.
A expressão é do economista Paul de Grauwe e foi publicada há dias: “O BCE criou uma máquina de dinheiro que enriquece os banqueiros enquanto eles dormem”. E é o mote para a edição desta semana da rubrica “As Pessoas Não São Números”, apresentada pelo jornalista Pedro Santos Guerreiro.
Num artigo publicado há dias, Paul de Grauwe é muito crítico quanto à atual subida das taxas de juro, argumentando que havia alternativas técnicas dentro do próprio Banco Central Europeu para combater a inflação sem que tal significasse um “bónus” tão grande para os bancos.
Ao aumentar os juros da forma como está a fazer, “esta máquina [do BCE] irá distribuir 92 mil milhões de euros em 2023; provavelmente muito mais, quando o BCE subir as taxas de juro para 3%. Os bancos irão então ganhar 140 mil milhões por ano. É quase tanto como a despesa toda do União Europeia este ano”, escreve o economista.
“Os aumentos recentes das taxas implicam pagamentos de juros mais elevados aos bancos comerciais e perda de receitas para os governos nacionais”, acrescenta de Grauwe. Qualificando a política atual de “um subsídio [aos bancos] pago pelo banco central”, o economista defende que seria melhor política “combinar a venda sustentada de obrigações do Estado com requisitos de reservas mínimas mais elevados.”
Segundo esta opção, que é tecnicamente detalhada pelo economista, seria “perfeitamente possível aos bancos centrais aumentar as taxas de juro para reduzir a inflação sem ter de transferir grande parte dos seus lucros monopolistas para os bancos comerciais”.
“Estes lucros pertencem à sociedade como um todo e devem ser transferidos para os governos”, conclui.
Também em Portugal, os bancos estão a registar lucros que não viam há anos. Nos primeiros nove meses de 2022, os quatro maiores bancos privados lucraram perto de 1,2 mil milhões de euros, mais 90% do que no mesmo período do ano anterior. A este valor soma-se o lucro de 692 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos no mesmo período (os resultados anuais de 2022 ainda não foram publicados”.
Tudo isto numa altura em que os bancos estão a cobrar uma taxa de juro média de 3,08% nos novos empréstimos à habitação e de 7,98% nos novos empréstimos ao consumo. O que pouco sabe são depósitos a prazo.
O que realmente vale cada percentagem e cada número que se atravessa nas nossas vidas? A resposta às terças, no Jornal Nacional.