“Vou sentir muita falta de conversar com ele”: a despedida emocionada de Paulo Portas a Adriano Moreira

23 out 2022

No espaço de comentário “Global”, na TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, Paulo Portas prestou uma homenagem a Adriano Moreira, antigo presidente do CDS-PP, que morreu este domingo aos 100 anos. Esta é a homenagem em discurso direto.

Acho que Portugal perdeu um sábio. E um sábio centenário. O Estado perdeu um estadista, seguramente entre os melhores. A sociedade portuguesa perdeu uma referência, tanto para as pessoas que o respeitavam como para aquelas que com ele concordavam. Os democratas-cristãos perderam o seu presidente mais ilustre. Os alunos vão lembrar as suas magníficas aulas. Os leitores vão recordar os seus livros excecionais.

Os amigos vão sentir a sua falta. Ele era um conversador notável, era um amigo rijo e constante. Não fazia depender as amizades das fortunas ou infortúnios, dos azares ou dos sucessos. Para a história viva de Portugal: ele conheceu dois séculos, três regimes, duas guerras mundiais na Europa e mais duas com impacto mundial – a dos Balcãs e agora a da Ucrânia. Ele era o conhecimento em pessoa. Por isso é que lhe disse sempre que a palavra que mais se aplica a Adriano Moreira é a de um sábio.

Vou sentir muita falta de conversar com ele. Ele ajudou-me muito, devo dizer. Deu-me muitos bons conselhos quando fui ministro da Defesa, depois quando fui ministro dos Negócios Estrangeiros. Gostava só de acrescentar dois pontos, que às vezes vejo referidos. Um sobre África, o outro sobre a democracia.

Em relação a África, não é possível fazer história no passado condicional, Mas eu estou convencido, por tudo o que leio e procuro aprofundar, que Adriano Moreira era o único homem no Estado Novo que tinha uma visão lúcida e corajosa para Portugal sair de África de uma forma digna, sem guerra e com um projeto que se chamada lusofonia, de que ele é um dos fundadores. É evidente que o Dr. Salazar não o deixou continuar e explicou por que é que não o podia deixar continuar. Acho que o modelo inspirador de Adriano Moreira era a forma como De Gaulle fez França sair de África, criando universidades, escolas de administração, fomentando classes médias locais, fazendo de alguns futuros presidentes africanos ministros de França primeiro. E teríamos sido poupados a uma guerra e a um processo revolucionário. Estaríamos bem mais avançados.

Quanto à democracia, acho que é importante lembrar nos dias de hoje, nos dias em que há tanto radicalismo, tanto vanguardismo, tanta ação virtual… Adriano Moreira sempre foi um defensor das instituições. Aliás, falava muito numa coisa que às vezes deixava as pessoas perplexas, que era o institucionalismo, o que protege as nações dos ventos mais radicais, das ruturas mais destrutivas, dos equívocos mais sérios, são as instituições, que são uma mistura de tradição e inovação. Gostava muito dele.

Deixo, como é evidente, uma palavra à Mónica, sua mulher, ao António, à Mónica, à Isabel, ao João, à Teresa, com saudades do Nuno, aos netos e às netas. Foi um grande homem com um século de vida

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